sábado, 20 de junho de 2015

O mal da Inocência – ou A última imagem

Morda sua língua
Para não gritar
Enquanto eles repetem
E repetem e repetem
Existem pessoas
Que só precisariam de bocas
Para falar suas verdades
Elas não precisam ver nem ouvir
Elas já têm suas verdades
Querem que eu ouça
Apenas ouça
Não preciso dizer
Não preciso ver
“Apenas ouça”
Não, não, não, não, não, não, não,
Não faça nada que não queiram
Eles dizem:
“Tenha mais maldade,
Seja menos inocente”
Pois até a mentira
Fala mais verdades do que eu
Eu que só falo verdades
Mas não querem que eu diga
Querem que eu ouça
Onde está esse Deus que matou um astro?
Onde está esse Deus que afundou um navio?
Não me respondem
Porque não ouvem
Ainda falam dos demônios por aí
Sem olhar para dentro de si
Afinal, não importa quantos degraus eu suba
Me lembrarão pelo que tropecei
Será que tropecei?
Eles só dizem que sim
Sem me deixar dizer
Não
Pai, me de esse cálice,
Me deixe tomar meu veneno
Mesmo que o mundo morra sem alimento
Não tomo por ti
Nem por ninguém
Apenas tomo porque não aguento
A dor das palavras
Não gostaria
Que o objeto que mais me deu dor
Ficasse preso no pescoço das pessoas
Mas nem para isso eles ligam
Não chore, criança
Os ignorantes te crucificam
E o erro foi seu
Meu erro
Meu pecado
Meu mal
Foi pegar a maçã
Foi ser inocente
“Seja como uma serpente”
Eles disseram
Pois bem,
Serei.
Pois para um mundo
Sem audição
Não me serve a boca
Para um mundo sem visão
Não me serve a imagem
Que fique aqui então
A última palavra verdadeira
E a última imagem da solidão

3 comentários:

  1. Um colega da sua faculdade20 de junho de 2015 às 18:17

    "Pois até a mentira
    Fala mais verdades do que eu".
    Frase genial! Que gosto ruim tem as palavra impostas...
    Acho q agora vc pode entender um pouco do q eu sempre reclamei contigo.

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    Respostas
    1. Um anonimo de sua faculdade20 de junho de 2015 às 18:18

      Gostei da recauchutagem! Vamos ver quais serão as mudanças!

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    2. Ha! Nem sei porque você se escondeu no anonimato, mas saiba que as mudanças são mais egoístas do que parecem: agora escreverei muito mais para mim do que para qualquer outro...

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