Olhou para os seus livros na estante e lembrou-se da
primeira vez que se questionou. O dia que acordou.
Era um dia frio de junho, podia ver a chuva fina cair pela
janela gradeada. A sala de aula parecia tão comum: cadeiras rabiscadas, paredes
velhas, corpos vivos amontoados, um quadro cheio de questionamentos. No
entanto, ele sentiu-se diferente. Olhou para o quadro e só viu perguntas
vazias. Observou os outros alunos e só viu desperdício de vida. Fitou o
professor sentado a mesa corrigindo cadernos e pensou. Pensou até conseguir
formular a pergunta que rodeava por sua mente: O que estamos fazendo conosco?
– Me dá cola do dever? – disse o garoto que estava ao seu
lado, interrompendo o seu pensamento. Mas, talvez, o ajudando a completá-lo.
– Por que devemos responder a estas perguntas? – perguntou
tanto para seu colega quanto para si mesmo.
– Ué, para ganhar dois pontos, né? Ou você prefere ficar com
nota vermelha? – foi a resposta que obteve. Não foi satisfatória, precisava de
um sentido maior.
Achou que não conseguiria melhor resposta de seu amigo,
então entregou seu caderno. Porém, continuou a pensar. Fez as contas e percebeu
que estava em um lugar como aquele há mais de dez anos. Como pode ficar ali por
tanto tempo sem se questionar? Como pode perder tanto tempo? Não importava,
mais do que isso, ele ainda queria ter um sentido para o que fazia consigo. Foi
até a mesa do professor, puxou uma cadeira ao seu lado e se sentou.
– Por que estamos fazendo isto? Digo, por que estamos na
escola? – questionou ao professor. Este o olhou com curiosidade.
– Ora, um jovem da sua idade já deveria saber a causa: está
aqui para se formar. Assim, poderá ter um bom emprego e ser uma pessoa bem
sucedida – respondeu o professor.
Agora lembrava, aquela resposta o satisfez por muito tempo.
Pensava em ser engenheiro e ganhar muito dinheiro. Mesmo assim, a resposta não
parecia o suficiente para a grandeza da pergunta. Voltou a questionar:
– Só isso?
– Como “só isso”? Isso deve ser o seu objetivo na vida. Irá
orgulhar os seus pais, formará uma família e não terá preocupações.
Percebeu que o seu professor não iria pensar além daquilo,
este foi o seu objetivo na vida. Achou que conseguiria mais conhecimento
perguntando a uma porta. Decidiu voltar à sua cadeira e procurar sozinho pela
resposta.
Perdeu – ou será que ganhou? – a tarde daquele dia pensando,
o dia seguinte também. Na verdade, mais dias do que pode se lembrar.
Perdeu-se pelas vielas do pensamento, escalou montanhas da
lógica, correu por vales estéreis da alienação. E, enfim, entendeu: a resposta
nada lhe traria de bom. O que o movia, o que movia o mundo inteiro, era a
pergunta.
Desde então se propôs a fazer as pessoas se perguntarem
também. Qual o sentido da vida? Por que trabalhamos? Por que morremos? Qual o
sentido de tudo o que nos rodeia? Qualquer pergunta feita por pura vontade já o
enchia de felicidade.
Emprego? Professor de filosofia e ciências sociais.
Dinheiro? Sim, não que importe tanto. Família? Apaixonou-se por uma de suas
estudantes e teve dois filhos. Perguntas a serem respondidas agora que chegou a
sua velhice? Mais do que poderia escrever em um livro. Talvez por isso tenha
escritos tantos sobre a origem do pensar e os motivos para perguntar ao mundo.
Retirou o olhar da estante e olhou pela janela, podia ver um
sol a brilhar e um jardim florido. Então, teve seu último pensamento: isto!
Isto é o verdadeiro significado de ser bem sucedido.
Começo...meio...fim... é o que importa ...que há uma janela pra se olhar... e perceber o sol...e as flores...
ResponderExcluiro pensamento é o renascimento de todos... liberta.
Excluirlindíssimo texto .... escreves bem meu amigo :)
Muito obrigado :-)
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