domingo, 30 de novembro de 2014

Azul

Passei pela roleta, sentei ao seu lado no ônibus. Depois daquele longo dia de estudos eu queria apenas descansar. Porém, não pude deixar de perceber aquele olhar abatido.
– O que foi? Você está com dor de cabeça? – perguntei a ela.
– Não, está tudo bem... – Me olhou com aqueles olhos claros. Hesitou, mas disse em fim. – O que você faria se gostasse de alguém, mas essa pessoa não te percebesse?
Foi a minha vez de hesitar, pensei um pouco e respondi:

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sem sentido

Queria não escutar o choro
Não ver a guerra
Não sentir o gosto
Amargo da terra
Misturada ao sangue
Dos heróis anônimos.

Mas então eu não poderia
Escutar os risos dos libertos
Ver o brilho dos seus olhos
Sentir o sabor
Dos morangos da vida.

Não temos meia-vida
Não temos muitas vidas
Não temos vida
Enquanto aqui esperarmos.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A última

– Então, o senhor vai-me dizer que perdeu toda a esperança? – indagou o jovem para o homem que estava sentado no sofá. O ambiente estava em meia luz, o anoitecer chegava. O homem olhou o garoto por alguns instantes sem responder, depois disse vagarosamente, quase saboreando sua fala:
– Esperança... Es-pe-ran-ça... Fazia muito tempo que eu não escutava esta palavra e há muito esqueci seu significado. Devia fazer o mesmo. – Aquelas palavras ressoavam na sala de estar, mais ainda na cabeça do jovem.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O Regente

Era uma noite fria numa sexta-feira qualquer de junho. A cidade, que ao dia havia trabalhado incessantemente pelos seus objetivos vazios e sórdidos, agora dormia num sono inquietante e exaustivo. O único que não estava preso a esta caótica realidade puxava o velho cobertor para cobrir-lhe por inteiro, enquanto observava a Lua minguante viajar pelo céu escuro. Pois, a metrópole negava a beleza da natureza que tanto tentou subjugar. Nesse ímpeto, o brilho das inofensivas – mas belíssimas – estrelas se perdia. No entanto, esta história não é sobre a cidade, nem as estrelas ou a Lua. É o conto do único, o que não era regido, mas sim regia sua vida.

domingo, 2 de novembro de 2014

Petulância estelar

Só havia a escuridão.
Queimava com todas as minhas forças.
Porém, era solitário em meu objetivo.
Só, iluminava o infinito.

Desejava alguém para me confortar.
Apenas um para poder dividir
O fardo de iluminar o infinito.
Mas não havia ninguém.

Desisti. Apaguei-me para a impossível missão.
Foi quando vi: dezenas, centenas, milhares.
Pontos de luz e esperança iluminando juntos.
Apenas o meu brilho me impedia de vê-los.