quinta-feira, 30 de abril de 2015

Há uma hora em que nos perguntamos o porquê de escrevermos. Agora eu sei: para deixar meu mundo menos insuportável.
Admito. Eu sinto prazer em escrever as dores dos meus filhos, a tortura dos meus inocentes. É tão prazeroso quanto arrancar com um facão a pele de uma onça ainda viva e agonizante.
Confesso que escrevo pela dor e para ela são dedicadas as minhas palavras. A realidade se torna menos insustentável quando posso fugir para outro lugar, um mundo onde eu possa escravizar. Apenas lá minhas cicatrizes são convertidas em flagelos alheios.
É incrível entender quem mais nos mata! Até os anjos nos ferem cinquenta e duas vezes.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Dúvida

– O que mais a gente quer? – Perguntou Francisca, a Baianinha.

Estávamos entre as pedras de uma praia qualquer. Tínhamos o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a Baia de Guanabara, o Aeroporto Internacional e pássaros sob nossos olhos.

Também tínhamos a água suja de óleo e dejetos, a sinfonia dissonante dos carros, os prédios cinza, uma plataforma petrolífera e barcos de vários tipos. 

– O que mais a gente quer? – Perguntava ela.

sábado, 18 de abril de 2015

Dádiva

Enquanto os outros caminhavam pelos ares, havia um que andava pesarosamente. Este sentia seus pés presos a terra e um enorme peso para carregar nas costas. Ao mesmo tempo em que todos voavam e brincavam e se divertiam, ele caminhava pela ilha. Ao passo que ele era irritantemente ofendido por sua inabilidade, ficava mais e mais incomodado com o seu fardo.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Um velho mendigo

Um velho mendigo quase cego estendeu-me a mão pedindo uma moeda. Poderia dizer que lhe dei tal moeda, que fui além, dei-lhe um aperto de mão. Perguntei o que aconteceu, ele me narrou sua história:

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Irracional

Preciso dormir
Ter o infinito sono dos desconsolados
Pra acordar num mundo
Onde tudo faça sentido

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Vítima

O copo de cerveja me tomou em sua mão
E me bebeu
O cigarro me teve entre seus dedos
E me fumou
O bar de esquina, com suas pernas bambas,
Fugiu de mim sem pagar as contas.