terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Protetora

A solidão me abraçou quando ninguém mais me quis.
Consolou-me na tristeza.
Ela me ensinou os segredos ocultos do silêncio.
Mostrou-me alegria nos singelos momentos.
Fiz dos seus braços meu colo.

Então a sociedade veio.
Esbanjadora, mergulhou-me em sua petulância.
Embriaguei-me nas suas diversões vazias.
Aprendi a ver a alegria apenas nos grandes momentos que não vinham.
Fiz dos seus tentáculos minha moradia.

Porém ela se foi e fiquei só.
Só na solidão.
Mas esta era espinhosa agora.
Neguei sua amada presença, odiei-a.
Tinha, enfim, me tornado um escravo social.



terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Invalidez

Uma estante velha e empoeirada, cheia de livros velhos de páginas amareladas com uma escrita ilegível. Fazia anos que ninguém roubava-lhe algum livro, nem que fosse por minutos. Idoclides sentia-se igual sua estante, sua não, a estante que ficava no seu quarto. O qual, por acaso do destino – e de seus netos – ficava num asilo. Por alguns meses se perguntou o propósito daquele móvel no lado oposto ao da sua cama – isto depois, é claro, dos longos anos que se perguntou onde sua família estaria e porque a abandonara – mas acabou largando este e outros pensamentos. Afinal, como descobrir se a única parte móvel do seu corpo eram os fracos olhos? Não, ela preferia deixar estes pensamentos serem levados pela maré do esquecimento.