sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Pequenos desejos

Suzana, dona de uma padaria, queria ser uma grande empreendedora.
Martin, chefe de uma grande empresa, queria ter uma família.
Silvia, dona de casa e mãe de seis filhos, queria ser jovem novamente.
Pedro, um jovem que morava na rua, só queria um pedaço de pão.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Vida de papel

Um homem de meia idade sentou-se à mesa, colocou uma folha de papel na sua frente e pegou o lápis. Começou a escrever: um jovem estava à frente de seu computador tentando escrever seu conto, mas não conseguia. Pois o personagem que queria narrar parecia-lhe uma incógnita, de pensamentos turvos e uma ideologia desconhecida.

Foi então que o garoto teve uma ideia, abriu um documento do Word e escreveu uma pergunta:

– Quem é você?

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Pergunte-se

Olhou para os seus livros na estante e lembrou-se da primeira vez que se questionou. O dia que acordou.

Era um dia frio de junho, podia ver a chuva fina cair pela janela gradeada. A sala de aula parecia tão comum: cadeiras rabiscadas, paredes velhas, corpos vivos amontoados, um quadro cheio de questionamentos. No entanto, ele sentiu-se diferente. Olhou para o quadro e só viu perguntas vazias. Observou os outros alunos e só viu desperdício de vida. Fitou o professor sentado a mesa corrigindo cadernos e pensou. Pensou até conseguir formular a pergunta que rodeava por sua mente: O que estamos fazendo conosco?

domingo, 30 de novembro de 2014

Azul

Passei pela roleta, sentei ao seu lado no ônibus. Depois daquele longo dia de estudos eu queria apenas descansar. Porém, não pude deixar de perceber aquele olhar abatido.
– O que foi? Você está com dor de cabeça? – perguntei a ela.
– Não, está tudo bem... – Me olhou com aqueles olhos claros. Hesitou, mas disse em fim. – O que você faria se gostasse de alguém, mas essa pessoa não te percebesse?
Foi a minha vez de hesitar, pensei um pouco e respondi:

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sem sentido

Queria não escutar o choro
Não ver a guerra
Não sentir o gosto
Amargo da terra
Misturada ao sangue
Dos heróis anônimos.

Mas então eu não poderia
Escutar os risos dos libertos
Ver o brilho dos seus olhos
Sentir o sabor
Dos morangos da vida.

Não temos meia-vida
Não temos muitas vidas
Não temos vida
Enquanto aqui esperarmos.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A última

– Então, o senhor vai-me dizer que perdeu toda a esperança? – indagou o jovem para o homem que estava sentado no sofá. O ambiente estava em meia luz, o anoitecer chegava. O homem olhou o garoto por alguns instantes sem responder, depois disse vagarosamente, quase saboreando sua fala:
– Esperança... Es-pe-ran-ça... Fazia muito tempo que eu não escutava esta palavra e há muito esqueci seu significado. Devia fazer o mesmo. – Aquelas palavras ressoavam na sala de estar, mais ainda na cabeça do jovem.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O Regente

Era uma noite fria numa sexta-feira qualquer de junho. A cidade, que ao dia havia trabalhado incessantemente pelos seus objetivos vazios e sórdidos, agora dormia num sono inquietante e exaustivo. O único que não estava preso a esta caótica realidade puxava o velho cobertor para cobrir-lhe por inteiro, enquanto observava a Lua minguante viajar pelo céu escuro. Pois, a metrópole negava a beleza da natureza que tanto tentou subjugar. Nesse ímpeto, o brilho das inofensivas – mas belíssimas – estrelas se perdia. No entanto, esta história não é sobre a cidade, nem as estrelas ou a Lua. É o conto do único, o que não era regido, mas sim regia sua vida.

domingo, 2 de novembro de 2014

Petulância estelar

Só havia a escuridão.
Queimava com todas as minhas forças.
Porém, era solitário em meu objetivo.
Só, iluminava o infinito.

Desejava alguém para me confortar.
Apenas um para poder dividir
O fardo de iluminar o infinito.
Mas não havia ninguém.

Desisti. Apaguei-me para a impossível missão.
Foi quando vi: dezenas, centenas, milhares.
Pontos de luz e esperança iluminando juntos.
Apenas o meu brilho me impedia de vê-los.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Vida escrita

Sentado escrevo
Sobre lutas, dores e glórias.
Aqui permaneço
Na indiferença, descaso e desânimo.

Mundos fantásticos
Criados, destruídos e recriados no papel.
Realidade deturpada
Ignoro os campos verdes, os prédios cinza e o céu estrelado.

Aqui espero
Minha vida passar, a velhice chegar e o tempo se esgotar.
Sem ter
Minhas lutas, dores e glórias.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Música dos ignorantes

Fecho os olhos para não ver a ferida.
Tampo os ouvidos para não ouvir os gritos.
Ignoro o perfume das rosas podres.
Cantarolo o hino, alienado ao destino.

Enquanto o sangue escorre,
O desespero explode
E as flores morrem,
A música continua...

domingo, 12 de outubro de 2014

Origem do pensar

Que lunático
Imerso em sua própria sanidade
Admitiria loucura?

Sou o único que vê do meu jeito.
Que angustia não saber se vejo a realidade.
Pior saber que não há verdades absolutas.

Vivendo no meu próprio universo.
Sem saber a origem dos pensamentos.
E curioso:
Querendo saber o que há no universo dos outros...

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

História, nossa história

O nome dos personagens mudam,
a história não muda.
De clero e nobreza à classe alta.
De Terceiro Estado à classe média-baixa.
De monarquia à pseudo-democracia.
De pão e circo à bolsa-família e futebol.
Antagonistas do futuro,
governam no escuro.
Enquanto nós, burros
Esperamos uma luz.
O nome dos personagens mudam,
mas nada muda.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Meu jardim

Em meio às cinzas também há rosas.
Em meio aos fétidos rosais também há doces odores.
Em meio às doçuras também há amarguras.
Em meio aos sabores também há dores.
Em meio às dores também há êxtase.
Em meio aos sentimentos...
Ah! Existem as minhas cinzas.

sábado, 4 de outubro de 2014

Escritas perdidas

Mentia tão bem que transformou o ato em profissão.
Virou escritor.
Escreveu sobre o amor que não sentiu.
Sangrou com dores que não o machucaram.
Criou pessoas que não existiam.

Para apenas ver que viveu a vida de outrem.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Prisioneira da Caverna

Sentia o ar úmido e lúgubre que entrava em seus pulmões. Assistia as sombras contarem estórias naquela tão familiar parede. Mas não via como há uma hora ou como ontem, não via igual viu sua vida inteira. Observava o teatro com desinteresse, tédio.
Exceto pela fogueira, o ambiente era escuro e ela não podia enxergar além das cotidianas sombras. Estas se diziam suas amigas, brincavam e, por muito tempo, colocaram um sorriso tonto no rosto da garota. Porém, não mais.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Dissimulado

E lá estava eu sentado à mesa, vestido com um terno, naquela sala com vidraças para o público. Este, que me observava com o mais espantoso nível de sagacidade, detinha para si a pluralidade de idade, cor, sexo, opinião e moral. Aos seus olhos nenhum movimento meu passava despercebido, por isso, eu devia cumprir a minha tarefa com a mais alta habilidade e desenvoltura. Antes que me impedissem de atuar.

domingo, 28 de setembro de 2014

Jo o quê?

Lunante, é o que ele é.
Não sabe o que significa? Calma, irei explicar-lhe.
Ele diria boa noite à alguém numa bela manhã apenas para poder perguntar o sentido da vida.
Ou indagaria aos ventos "por que não se pode andar para trás enquanto observa o luar?"
Dançaria sem musica alguma, mesmo causando vergonha alheia, apenas para se divertir.
Citaria Sócrates, Platão e Aristóteles apenas para lhe convencer de que a vida é uma ilusão.
Brincaria sobre cortar os pulsos enquanto escuta Legião urbana.
Tem um pessimismo sem ponderação.
Rei do mundo lunar, um mestre da lua.
Josué, um verdadeiro lunante.
Feliz aniversário :-D

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Legião

Estava escurecendo e eu precisava de um abrigo. Parecia não haver nenhum deles ali, mas eu devia tomar cuidado. A cidade estava em ruínas, como todas as outras que eu encontrei nos últimos meses, casas desmoronadas, prédios a ponto de cair, uma poeira desértica que o vento fazia dançar e entrar nos meus pulmões. Mas não havia corpos... Sobreviventes? Perdi minhas esperanças há três meses. Contudo, precisava sobreviver, precisava de um esconderijo.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Deus não está morto

A morte é a dor dos vivos.
Mas você não sabe como ela é.
Não sabe da cor branqueada da pele, quase esverdeada.
Não sabe do maxilar que se afrouxa.
Não sabe das pupilas dilatadas e das pálpebras enrijecidas.
Não sabe do frio e da ausência de respiração.
Você não sabe nada da morte.
Não é descanso, é a imagem final da angustia e inexistência.

domingo, 7 de setembro de 2014

Criaturas da Noite

Os cortes eram muito profundos. Eu não podia salvá-la, e nós sabíamos disso.
Ainda me lembrava da primeira vez que a vira. Tinha longos cabelos negros, pele branca, olhos castanhos e sua expressão característica de desafio. Passamos longos anos trabalhando juntos, o que era improvável para o que matávamos todas as noites. Mas a noite final havia chegado, e era a dela.
Sabia que ela também estava pensando em todos nossos momentos juntos.
Eu estava ajoelhado com ela em meus braços, o beco tinha um cheiro de podridão característico das criaturas, mas já fazia tempo que não ligávamos para aquilo, na verdade, nos ajuda a localizá-los dependendo da situação.
– É uma bela noite de lua cheia, não acha? – Disse minha amada, com lágrimas brotando dos olhos.
– É sim, Andy. – Meus olhos começaram a embaçar com as lágrimas que não pude segurar.
A noite realmente estava bonita, a cidade estava silenciosa naquela hora da madrugada, era outono e estava frio, nossa época do ano e clima favoritos. Ela tentou olhar em volta, como não conseguiu, olhou nos meus olhos e disse:
– Matou-o?
– Ele... Ele fugiu. Desculpe-me.
– Tudo bem. Sei que em breve irá matá-lo.
– Não. Não posso fazer isto sem você.
– Pode e vai. Esta é a nossa vida, e agora é a única coisa que tem. Prometa que – ela parou para poder tossir e cuspir um pouco de sangue –, prometa que vai caçá-lo.
Ela estava certa, matar aquelas coisas virou a única coisa que eu sabia fazer, e eu gostava. Pensei que sem ela seria impossível continuar, mas a ideia de vingança logo aflorou em minha mente. Eu precisava continuar, eu iria até o fim.
– Eu prometo. – Inclinei-me para beijá-la nos lábios. As roupas dela, as minhas e o chão estavam sujos do seu sangue. Não demoraria muito. – Prometo que irei caçá-lo até o fim do mundo se for preciso.
Seus olhos brilhavam de encontro aos meus.
– Obrigada pela felicidade, pelo amor, pelo sentido de viver. Muito obrigada... – Mais sangue saindo pelo canto de sua boca. Já havia visto mais pessoas normais morrerem do que posso contar, mas ver aquilo era horrível.
– Eu que deveria agradecer. Se não fosse o que fez, eu estaria em seus braços agora, não ao contrário...
– Faria tudo de novo se fosse preciso. Pois, eu te amo.
– Eu também te amo, Andy... Eu também te amo...

A respiração cessou, o maxilar afrouxou, seus olhos perderam o brilho. O que estava em minhas mãos agora era só um cadáver, mas não por muito tempo. Eu deveria terminar o trabalho que eles começaram...

sábado, 6 de setembro de 2014

Óbito

O doce gosto das mentiras azedou o meu paladar.
A frieza dos seus olhos congelou os meus.
Suas unhas afiadas rasgaram meu peito.
Fingi-me de cego.
Mas seu veneno me contaminou.
Não espere de mim o que já fui.

Sou apenas você agora.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Depressão

Suas asas negras me abraçam.
Suas garras dilaceram meus ombros.
Sua boca sibila ameaças e provocações.
Meu coração se enche de seu negrume.
Minha boca cochicha desavenças.
Minhas mãos escrevem palavras melancólicas.
As sílabas são as lâminas que me mutilo.
Das trevas se cria a arte.

Era um mutualismo.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Recomeço

Quanto tempo, não é mesmo? Será que ainda consigo? Vamos ver:
Papel e lápis sobre a mesa. Ele estava ali sentado há alguns minutos, mas não pensava em nada que pudesse escrever. “Talvez eu deva desistir”, pensou, “isto não é para mim”.
Olhou para a janela, pode ver um belo pôr-do-sol digno deste inverno. “Será que não tenho criatividade?”, questionou a si mesmo, “esta não deve ser a minha vocação, talvez eu seja um bom padeiro...”
Olhou para o papel, pensou nas aventuras que Jack não teve, nas travessuras nunca feitas de Leila contra sua irmã, na futura, digna e heróica morte de Teon se lançando contra o exército inimigo para salvar a única pessoa que podia dizer ser sua família. Todos os seus personagens, principais e secundários, todos deixando de existir. Todos os mundos imaginados se desmanchando sem nunca terem existido de verdade.
Era o fim para todos eles...

– Ei, espera! Eu disse padeiro? Haha, só posso estar brincando. Criar pessoas, vidas, cidades, países, mundos, universos! Esta é a minha vocação. Não vou deixá-los morrer sem antes terem a oportunidade de marcar a sua história nas páginas dos livros que irei escrever. E não vou parar de escrever até que consiga marcar a minha história nas páginas da vida.