Os cortes eram muito profundos. Eu não podia salvá-la, e nós
sabíamos disso.
Ainda me lembrava da primeira vez que a vira. Tinha longos
cabelos negros, pele branca, olhos castanhos e sua expressão característica de
desafio. Passamos longos anos trabalhando juntos, o que era improvável para o
que matávamos todas as noites. Mas a noite final havia chegado, e era a dela.
Sabia que ela também estava pensando em todos nossos
momentos juntos.
Eu estava ajoelhado com ela em meus braços, o beco tinha um
cheiro de podridão característico das criaturas, mas já fazia tempo que não
ligávamos para aquilo, na verdade, nos ajuda a localizá-los dependendo da
situação.
– É uma bela noite de lua cheia, não acha? – Disse minha
amada, com lágrimas brotando dos olhos.
– É sim, Andy. – Meus olhos começaram a embaçar com as
lágrimas que não pude segurar.
A noite realmente estava bonita, a cidade estava silenciosa
naquela hora da madrugada, era outono e estava frio, nossa época do ano e clima
favoritos. Ela tentou olhar em volta, como não conseguiu, olhou nos meus olhos
e disse:
– Matou-o?
– Ele... Ele fugiu. Desculpe-me.
– Tudo bem. Sei que em breve irá matá-lo.
– Não. Não posso fazer isto sem você.
– Pode e vai. Esta é a nossa vida, e agora é a única coisa
que tem. Prometa que – ela parou para poder tossir e cuspir um pouco de sangue
–, prometa que vai caçá-lo.
Ela estava certa, matar aquelas coisas virou a única coisa
que eu sabia fazer, e eu gostava. Pensei que sem ela seria impossível
continuar, mas a ideia de vingança logo aflorou em minha mente. Eu precisava
continuar, eu iria até o fim.
– Eu prometo. – Inclinei-me para beijá-la nos lábios. As
roupas dela, as minhas e o chão estavam sujos do seu sangue. Não demoraria
muito. – Prometo que irei caçá-lo até o fim do mundo se for preciso.
Seus olhos brilhavam de encontro aos meus.
– Obrigada pela felicidade, pelo amor, pelo sentido de
viver. Muito obrigada... – Mais sangue saindo pelo canto de sua boca. Já havia
visto mais pessoas normais morrerem do que posso contar, mas ver aquilo era
horrível.
– Eu que deveria agradecer. Se não fosse o que fez, eu
estaria em seus braços agora, não ao contrário...
– Faria tudo de novo se fosse preciso. Pois, eu te amo.
– Eu também te amo, Andy... Eu também te amo...
A respiração cessou, o maxilar afrouxou, seus olhos perderam
o brilho. O que estava em minhas mãos agora era só um cadáver, mas não por
muito tempo. Eu deveria terminar o trabalho que eles começaram...